O novo pai
Homens e mulheres têm direitos iguais. Para eles, resta correr atrás do prejuízo
Eu
acho que os homens deveriam ter licença-paternidade.” “Pra ficarem
enchendo a cara? Ficarem de férias?” Esse breve diálogo revela duas
experiências distintas da maternidade, transformadas por causa do papel
do pai. Se mãe é mãe, o pai não é mais o mesmo.
Dizem as babás antigas, donas de
ampla sabedoria prática, que na última década passaram a ver muitos pais
dividindo as responsabilidades do cuidado da criança com as mães. Esses
seriam os “novos pais”, em oposição ao pai tradicional.
O pai tradicional é aquele que
divide os custos do bebê com a mãe, mas não divide a responsabilidade –
estas são as pobres filhas do feminismo. Durante a gestação, ele segue
sua vida normalmente: sai, bebe, volta tarde, acorda de ressaca, reclama
que a mulher não é mais a mesma. É comum mulheres com essa experiência
cultivarem a fantasia de entrar em trabalho de parto numa noite em que o
marido esteja de porre.
Quando a criança nasce, o pai
tradicional acha que se der “uma ajuda” para a mãe numa troca de fralda
ou numa crise de cólica estará fazendo seu papel. Afinal, é dela 90% da
responsabilidade sobre o bebê. Sendo assim, ele chega à noite do
trabalho, faz um carinho no filho e vai para o quarto. No máximo dá o
banho. Para as mulheres que procriam com pais tradicionais, pelo menos
até a criança dizer “papai”, ser mãe é ser sozinha.
Como a mãe precisa ter quatro
mãos, as outras a entrar na dança serão as da babá e/ou da avó. E,
assim, licença-paternidade pra quê?
Pai para toda obraJá
o novo pai é filho da revolução feminina. Para ele, homens e mulheres
têm direitos iguais, mas, na maternidade, a mulher é mais poderosa: é
ela quem gesta, pare e amamenta. Resta a ele correr atrás do prejuízo:
ser parceiro na gravidez e engravidar também; ir às consultas médicas;
fazer cursos de pais; estar ao lado da mulher no parto para cortar o
cordão e, logo depois, dar o primeiro banho na criança. Enfim, encarar a
paternidade como 50% de responsabilidade dele e 50% de responsabilidade
da mãe.
Para o novo pai, trocar a fralda
das seis da manhã ilumina o dia. Passar o dia fora de casa é morrer de
saudade. Chegar do trabalho e dar banho de chuveiro no filho é sua dose
de transcendência diária.
Dizem que as crianças hoje em dia
já nascem mais espertas. Coincidência ou não, muitas delas são filhas
dos novos pais. Não seria um efeito do olhar do novo pai? Talvez. Ainda
não sabemos as consequências desse acréscimo amoroso, mas eu acho
sortuda a criança que nasce com um pai disposto a limpar-lhe a bunda com
franco sorriso no rosto. Certamente isso há de ter efeito na
autoconfiança, na coragem para encarar o mundo e, sobretudo, na
capacidade de amar desse futuro adulto que, no seu tempo, tornar-se-á um
pai ou mãe ainda mais preparado para cuidar.
(*) Antonia Pellegrino, 32 anos, é roteirista e escritora. Seu e-mail: a.pellegrino@terra.com.br